domingo, 29 de março de 2009

DE ANTÓNIO ALEIXO A ANTÓNIO VARIAÇÕES

Desta vez lembrei-me de vos escrever sobre os Antónios deste país, não sobre António Lobo Antunes, nem António Gedeão, ou António de Oliveira Salazar, nem mesmo sobre o Padre António Vieira. Quero falar de dois homens menos importantes para o mundo das letras e das ideias: António Aleixo e António Variações. Quer um quer outro podem representar o universo dos muitos Antónios que recorrem aos Centos Novas Oportunidades para verem reconhecidos os seus processos de reconhecimento, validação e certificação de competências. Tanto um como outro não frequentaram durante muito tempo as escolas básicas, tampouco frequentaram as universidades, no entanto projectaram-se e perpetuaram os seus nomes, devido às muitas competências e qualidades que revelavam.
António Aleixo foi guardador de cabras, cantor popular de feira em feira, soldado, polícia, tecelão, servente de pedreiro em França, “poeta cauteleiro”. Considerado um dos poetas populares algarvios de maior relevo, famoso pela sua ironia e pela crítica social sempre presente nos seus versos, António Aleixo também é recordado por ter sido simples, humilde e semi-analfabeto, e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português.
Na sua figura de homem humilde e simples, havia o perfil de uma personalidade rica, vincada e conhecedora das diversas realidades da cultura e sociedade do seu tempo. Aleixo tinha por motivos de inspiração as brincadeiras dirigidas aos amigos e a crítica social. É notável, na sua poesia, uma certa amargura filosófica, aprendida na escola impiedosa da vida.
António Variações foi filho de camponeses minhotos muito pobres. Terminada a instrução primária, foi para Lisboa onde se dedica a várias actividades profissionais: aprendiz de escritório, barbeiro, balconista e caixeiro. Na capital trabalha durante o dia e estuda à noite.
Como qualquer jovem do seu tempo, cumpriu o serviço militar obrigatório em Angola, onde, em conjunto com outros militares formou uma banda musical.
De regresso a Lisboa, partiu, uns meses mais tarde, para Londres e Amesterdão, com o objectivo de aperfeiçoar o seu trabalho de cabeleireiro.
A par desta actividade profissional, desenvolveu o seu prazer pela música, que terá herdado do pai, um exímio tocador de cavaquinho. Com poucos estudos, sem nunca ter aprendido canto e sem saber uma nota, escreve, compõe e canta com uma qualidade surpreendente, produzindo uma música completamente experimental “por ensaio e erro”. Nas letras das suas canções transmite os seus estados de alma e registos de observações quotidianas, cruzados com as tradições populares. Não se confina a um único estilo musical, revela-se heterogéneo, produzindo música de diversos estilos, admirada, não só pelos críticos e pelo público, mas também por músicos consagrados como Amália Rodrigues ou Pedro Ayres de Magalhães.
Estes dois homens bem podem servir de exemplo e de estímulo para todos aqueles que acreditam que a aprendizagem e a valorização pessoal e profissional não se fazem apenas no mundo da escola. Os CNO`s cá estão para valorizar e certificar todas as aprendizagens e todas as competências adquiridas nos mais variados contextos da viva.


Júlio Sá
Avaliador Externo

Sem comentários: