sexta-feira, 10 de abril de 2009

PEDRAS NO CAMINHO

“... Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir
Um castelo...”

Fernando Pessoa


Tomo por empréstimo estes versos de Fernando Pessoa para reflectir um pouco sobre o Programa Novas Oportunidades. Metaforicamente estas pedras são todas as dificuldades, todos os obstáculos que, ao longo da vida, se vão colocando e que importa torneá-las ou ultrapassá-las. Qualquer pessoa, na sua caminhada de vida, enfrenta dificuldades, momentos de desânimo, de infelicidade, de injustiça e de ruptura. Costumo dizer aos meus alunos que estes momentos de conflito e de desânimo são normais, direi mesmo necessários, e representam picos de crescimento. Todo o processo de crescimento é doloroso e, com muita frequência, implica rupturas. O importante é não se deixar abater, reconhecer que há um longo caminho a percorrer e nunca desanimar e abandonar o objectivo traçado. Muitos vão-se libertando dessas pedras, desses obstáculos, para facilitar a sua penosa caminhada, no entanto, os mais sensatos, aqueles que têm uma perspectiva construtiva e de futuro, não esquecem essas pedras, não ignoram os seus erros e, num esforço suplementar, acomodam-nas na sua arca da vida. São pedras que simbolizam as oportunidades perdidas, a escola abandonada, a formação adiada, os empregos precários, o prazer imediato, os interesses passageiros e efémeros, o individualismo exagerado, o facilitismo, a preguiça, a indolência. São tantas e tantas pedras arrumadas e aparentemente desnecessárias! Agora, nesta encruzilhada, nesta fase crítica de crise económica e social, é importante recuperar essas pedras, corrigir os erros, fazer uma avaliação séria e criteriosa, pegar nelas e iniciar a construção do nosso castelo. Quem as recolheu, quem as guardou poderá construir o seu castelo de vida, reformular o seu projecto de vida, cinzelar e apurar as imperfeições e construir um edifício belo e robusto. Esse castelo pode ser o Plano de Desenvolvimento Pessoal. Apresenta-se como uma tarefa exigente e difícil que requer o apoio qualificado dos melhores técnicos e dos melhores profissionais. Todavia, se pretendermos o sucesso, não devemos copiar os projectos dos vizinhos, é importante sermos originais e construir o nosso plano, que seja autêntico e modelado à nossa personalidade, à nossa experiência, à nossa necessidade e à nossa vontade. Não devemos apostar num qualquer plano formatado, tipo pronto-a-vestir, devemos consultar os melhores técnicos que colaborem na sua definição e na criação de condições para a sua concretização. Este processo pode implicar contactos com entidades formadoras, empregadoras ou de apoio ao empreendedorismo.
Nesta fase, o adulto deve ser crítico, exigente e não aceitar toda e qualquer proposta desenhada por terceiros. O plano deve ser pessoal, devendo desconfiar-se de modelos standarizados e demasiado fáceis. Podem não saber exactamente o que pretendem, mas, tal como José Régio, desconfiem daqueles que “com olhos doces… vos dizem vem por aqui”. O plano deve ser feito à medida de cada um, sendo assim, nos momentos de indecisão, também saibam dizer:

Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!”

Júlio Sá
Avaliador Externo

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