sábado, 8 de janeiro de 2011

AS MINHAS TREMURAS

O meu nome é Eduardo Coutinho de Carvalho, tenho 60 anos, reformado, com uma situação financeira estável, mas caí num vazio ao passar à reforma. E agora? Pensei. Espero o dia fatal? Não! Frui uma ideia luminosa. Desde criança algo me consumia a alma que era a vontade de estudar e, por motivos alheios à minha vontade, não o fiz. Durante toda a minha vida, outras prioridades eram mais eminentes, tais como a formação das minhas filhas e a construção de uma casa para viver. Agora, já reformado, pensei fazer “o que ainda não foi feito”, como diz Pedro Abrunhosa na sua canção. Acompanhado pela minha filha Juliana, tremia como uma criança, achava-me velho para me sentar nas carteiras escolares e, por outro lado, achava que ia ser rejeitado. Dirigi-me à CIOR onde, para meu espanto, fui acolhido com todo o respeito e delicadeza. Inscrevi-me no processo RVCC de nível básico e, por meio deste processo, tirei um curso básico de informática. De vez em quando pensava: “Se conseguir acabar o 9º ano fico nas nuvens, se for mais além, fico no céu”. No dia do júri de validação e certificação, o avaliador disse-me: “O Sr. Eduardo não vai parar!” Posto isto, deu-me uma vontade enorme de continuar, estimulou-me de tal forma, que me fui inscrever imediatamente no 12º ano. O meu receio era ser esquecido tendo em conta a idade, mas, para meu espanto, quando abordei a Dr.ª Maria João, esta respondeu-me: “Esteja descansado, a chamada é feita por ordem de inscrição”.

Eu tinha dois objectivos. Por um lado a valorização pessoal e, por outro, mostrar que de facto os meus conhecimentos poderiam ir para além do 9º ano. Hoje, acabo de concluir o 12º ano e, ao fazer uma retrospectiva de um passado recente, não me restam dúvidas, sinto-me outra pessoa, pois lembro-me que quando passava próximo do computador tinha medo dele. Hoje não passo sem ele! Relaciono-me com todas as instituições através da internet sem necessidade de sair de casa e escrevo e falo com as minhas filhas que se encontram distantes através dele.

Sinto-me feliz e gostava de partilhar esta felicidade, não só com a minha família, mas também com todos os funcionários da escola e com todos aqueles que têm dúvidas sobre o que devem fazer no comboio da vida. Estudem e valorizem-se, pois tudo “vale a pena se a alma não é pequena”.

Eduardo Coutinho, adulto certificado com o 12ºano de escolaridade

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