sábado, 8 de janeiro de 2011

VOLTAR A SONHAR


“Eu queria ser astronauta,

o meu país não deixou.

(…)

Tive vontade de voltar à escola,

mas o doutor não deixou.”


Esta música dos Xutos e Pontapés passa com muita frequência nas rádios deste país e reflecte com acuidade o sentimento dos adultos de hoje que, em criança, não puderam frequentar a escola. Estes versos traduzem com um realismo cruel a situação de muitas dessas crianças que viram os seus sonhos destruídos pelo obscurantismo do país e pela mísera condição socioeconómica das famílias. O país está em dívida para com essas pessoas, pois, muitos dos sonhos acalentados, não se concretizaram. As famílias, sem o apoio do Estado e sem a ajuda da própria escola, não ajudaram a materializar esses sonhos de uma vida. O mundo da escola e da formação estava vedado à generalidade das crianças portuguesas. Apenas os filhos das classes sociais mais favorecidas conseguiam frequentar a escola e chegarem a engenheiros e doutores. Quantos engenheiros, quantos doutores, quantos técnicos qualificados se perderam por falta de vontade política e de uma estratégia nacional!

Como diz a canção, essa desilusão transformou-se em “dor que nunca mais passou”. Uns conformaram-se e resignaram-se com a triste realidade, no entanto, muitos outros deixaram que o inconformismo tomasse conta das suas vidas e decidiram voltar à escola. Com o Programa Novas Oportunidades, muitos deles descobriram que ainda é possível sonhar e realizar muitos desses sonhos impossíveis, metaforicamente designados por astronauta. Felizmente, não é necessário recorrer ao Anjo da Guarda da canção, pois existem muitos profissionais competentes, empenhados e motivados para apontar os caminhos da realização pessoal, social e profissional. Todos aqueles que quiserem ser astronautas, engenheiros, doutores, professores ou até mesmo atletas de alta competição têm agora uma oportunidade de concretizar o sonho de uma vida. É necessário apenas “acordar, meter os pés no chão/Levantar pegar no que tens mais à mão. / Voltar a rir. Voltar a andar.” E o sonho de uma vida realizar-se-á.

Júlio Fontes Sá, Avaliador Externo

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