sexta-feira, 1 de maio de 2009

A TODAS AS MÃES - Dia 3 Maio

Lisboa, segunda-feira, 14 de Julho de 1997

Mãe, acordei perdida.

Nas minhas incursões ao passado, às vezes encontro espaços em branco, hiatos, locais que não reconheço e onde não consigo sossegar.
Serão as sempiternas dúvidas que a vida, pedagogicamente, nos manda resolver sozinhos? Ou serão as perguntas que, na infância, ficaram sem resposta?
E outra questão: se as coisas se sabem há tanto tempo, há tantos séculos, há tantos milénios, porque nao nascemos nós com intuição para as perceber? Para que será preciso repetir tanta dor, tantos erros para que se chegar à mesmas respostas e às mesmas conclusões?


Lisboa, terça-feira, 15 de julho de 1997

Mariana, darling:
Em todas as gerações há vítimas dos mesmos problemas, porque a humanidade cresce pelo velho e, porventura, ultrapassado método da tentativa-erro.
Mas as coisas vão evoluindo, embora nem sempre num bom sentido.
Um mundo que antecipasse as vossas respostas, poupando-nos tempo, trabalho e lágrimas, não seria tão generoso.
E mais: se as perguntas que se fazem são todas as mesmas, à partida, as respostas que se encontram diferem drasticamente; um músico encontra a música, um matemático descobre os números, uma pessoa sem talentos achará a sua orientação.
E, às vezes, é só mesmo a caminhada que interessa.


Kavafis, um poeta grego dizia qualquer coisa como:

Não sonhes com Ítaca, porque Ítaca não tem nada para te oferecer. A única coisa que Ítaca tem para te oferecer é o caminho até Ítaca.

Fiz-me entender?


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Ferro, R & Gautier, M. (1998). Desculpa lá, mãe.Lisboa: Circulo Leitores

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