Pesquisas feitas com cientistas sobre a maneira como eles fazem ciência revelam que a maioria responde quase de imediato: “O método cientifico” (1). A grande verdade é que é indiscutível que este método trouxe uma sistematização que alavancou a ciência e a tornou na mais produtiva ferramenta do intelecto humano. Apesar dos resultados, há quem ponha em causa esta metodologia argumentando que a observação de um fenómeno por si só afectaria a percepção desse mesmo fenómeno e, portanto, o método não seria válido. Linearmente dir-se-ia que como contra factos não há argumentos, vence até aos dias de hoje a eficácia deste método, pois nenhuma alternativa proposta a ele contribuiu tanto para o avanço da ciência, o desenvolvimento da tecnologia e a compreensão do Mundo e do Universo. Reflectindo um pouco sobre isto, rapidamente me ocorre a outra parte dos resultados da pesquisa referida: “alguns dos cientistas entrevistados, após começarem a responder "o método..." paravam, reflectiam e diziam: "Na verdade, não é isso. Temos uma ideia, partimos dela e não paramos até que tenha sido realizada".
Ao escrever este texto e tendo na ideia todos os dossiers com histórias de vida analisados, histórias tão variadas e únicas como os seus protagonistas, apercebi-me que não posso contestar o método científico, mas também não posso negar a importância desta abordagem. Se por um lado cada história de vida pode ser encarada como o nosso problema inicial, que pela sua observação/análise irão ser vislumbrados caminhos a serem trabalhados (experimentação) que permitam testar a hipótese estabelecida inicialmente (pegando neste aspecto, indo por este caminho conseguiremos?) e concluir a sua veracidade, não menos verdade é que há metas predefinidas a atingir (critérios de evidência a serem validados), e que não são evidenciadas nem indiciadas na vida da maior parte. Aqui de facto “temos uma ideia, iremos partir dela e não parar até que tenha sido alcançada".
Talvez conclua que o caminho que se toma não predestina a meta que se alcança. E ao longo dos tempos, várias foram as pessoas que se sagraram ilustres em determinada área, tomando caminhos díspares dos tradicionais, se não pensemos no percurso de Einstein do qual não se pode dizer que tenha tido uma caminhada escolar brilhante. Como é que um dos maiores génios da história da humanidade teve um rendimento escolar tão fraco? As razões podem ser muitas. A resposta que me interessa explorar é a sua desmotivação relativamente às matérias ensinadas, se bem que precisou delas ao longo da carreira como cientista. Torna-se cada vez mais pertinente perceber que é importante que as crianças, adolescentes, jovens e adultos tenham contacto com as mais variadas realidades. A sua formação não se deve restringir ao currículo da sala de aula! A obsessão por resultados de mérito não deve ser um fim, as notas altas devem ser o resultado do gosto por uma matéria e é o gosto pelas matérias em estudo que se deve promover. Aí penso que o processo feito num Centro de Novas Oportunidades ganha terreno e é esplêndido no sentido em que toda a base de trabalho de quem nele se inscreve é a sua própria história de vida. Esta trabalhada à luz das áreas envolvidas será ramificada para temas e propostas variadas, mas que dizem sempre algo à pessoa que as trabalha – não fossem elas tiradas de si mesmo. Aqui os adultos quando chegam trazem na bagagem a “escola da vida” e, quando saem, levam a “escola de papel”, o inverso do ensino tradicional. Uma não é melhor que a outra, a certeza é que ambas em sintonia farão as pessoas terem bases mais sólidas para se inserirem e vencerem os obstáculos do dia a dia de trabalho, e não só, com que se deparam. Este processo é mais ou menos credível? Até eu mesma já parei várias vezes a pensar na resposta, hoje conhecendo a ideia de raiz do projecto respondo aquilo que muitas vezes dizia o professor Doutor Juan Manuel Torres: "A academia aceita a inovação, mas você tem de ser brilhante!".
(1) O método científico: conjunto de regras básicas para um cientista desenvolver uma experiência a fim de produzir novo conhecimento, bem como corrigir e integrar conhecimentos pré-existentes. Consiste em juntar evidências observáveis, empíricas, e mensuráveis, com o uso da razão. Consiste nos seguintes aspectos: Problema, Observação, Formulação de hipóteses, Experimentação das hipóteses e Conclusão.
Ilda Dias