terça-feira, 1 de abril de 2008

OPORTUNIDADES PARA AS MULHERES

A 8 de Março assinala-se o “Dia Internacional da Mulher”. Nesse dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como “Dia Internacional da Mulher”.
Ao escolher o tema “Mulher” para este artigo, não pretendo liderar nenhum grupo de emancipação, mas elogiar as mulheres que tenho encontrado nos Centros Novas Oportunidades (CNO).
Para muitas mulheres da nossa região os CNO’s estão a ser um desafio, uma ocasião ímpar e ao mesmo tempo o início de um novo processo em que a aposta na formação volta a ganhar um novo impulso.
Aos CNO’s chegam as mais diferentes mulheres, jovens e adultas, empregadas e desempregadas, casadas, divorciadas e solteiras, mães, avós e tias. Em comum a vontade de ver certificadas as suas competências.
Para alcançar um objectivo que em tempos foi interrompido, pelos mais diversos motivos, não abdicam de fazer diversos sacrifícios pessoais.
Faltam apoios…
Não é fácil, depois de um dia de trabalho, assistir a sessões de formação e elaborar os instrumentos de mediação que são propostos ao longo deste processo, para muitas é o retomar de um ciclo que foi interrompido há mais de 15 ou 20 anos.
Da experiência obtida, nas sessões de Júri, devo afirmar que ainda hoje para muitas mulheres o acesso à educação está muito dificultado, mas agora o obstáculo é a família. É certo que os Centros Novas Oportunidades estão com as portas abertas para acolher, apoiar e orientar as mulheres, mas o difícil para muitas é chegar até estas instituições.
Das histórias de vida relatadas, algumas chocantes, são muitas as mulheres que ingressam neste processo contra a vontade dos cônjuges. Em casa, e no seio da família falta o apoio, encorajamento, mas pior há um número significativo de dificuldades que são colocadas pelo facto da mulher ter decidido apostar na formação.
Ainda recentemente uma adulta relatava que “o meu marido não me queria deixar vir para a formação e até o seu carro colocou à entrada da garagem para não me deixar sair com a minha viatura”. Outras, com lágrimas nos olhos afirmavam que “não passa pela cabeça do meu marido que eu estou aqui. Tive que mentir” e “se calhar não vou poder continuar porque em casa tenho uma guerra todos os dias porque ele não quer que eu estude”. A questão que se coloca é saber, que crime cometeu cada uma destas mulheres, para ter de andar com medo de represálias, quando tomou a decisão de ingressar num processo de Reconhecimento e Validação de Competências.
Afinal com o Dia Internacional da Mulher não se pretende chamar a atenção para o papel e dignidade da mulher e levar a uma tomada de consciência do valor da pessoa, perceber o seu papel na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher?
A conclusão que se pode tirar, é que, infelizmente, ainda há um longo caminho a percorrer …e desde 1857 até aos nossos dias a evolução não foi tão significativa quanto isso.

Fátima Cerqueira
Avaliadora Externo

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