terça-feira, 1 de abril de 2008

ASAS PARA VOAR...

Há mais de 20 anos que estou ligado à formação e educação de Adultos, como animador cultural, professor, formador e coordenador concelhio do ensino recorrente e extra-escolar. Desde 2003, tenho também desempenhado funções de avaliador externo nos processos de RVCC.
Tem sido pois uma vida dedicada à Educação e Formação de Adultos. Desde cedo aprendi a respeitar estes homens e mulheres que, contra todas as adversidades, lutam por uma melhor valorização e qualificação escolar e profissional. Também fui aprendendo que o modelo formativo centrado na escola e nos conhecimentos não é o único a dotar os cidadãos das competências escolares e formativas. Ao longo destes anos pude constatar que, fora da escola, na família, na Associação, nos empregos, enfim, em sociedade, é possível, através da auto-aprendizagem, mas também com recurso a pequenas/grandes acções de formação, de carácter mais ou menos formal, adquirir competências pessoais, sociais e profissionais, muitas vezes impossíveis de adquirir nas Escolas, durante o percurso escolar regular.
Destas experiências destaco o das mulheres, autênticas heroínas, que sofreram discriminação na sua adolescência, tendo de abandonar a escola e dedicar-se às lides domésticas e à subsistência da família, pois tradicionalmente a mulher era educada para ser boa dona de casa, boa esposa e boa mãe, não necessitando de estudar. Na idade adulta, revelam-se voluntariosas, empenhadas e estóicas; emancipam-se, saem do conforto e do comodismo das suas casas e passam a frequentar cursos e acções de formação, para se valorizarem escolar e profissionalmente, mas sobretudo para concretizarem o sonho de escolarização que lhes foi negado em idade própria e assim se afirmarem socialmente.

Desta minha curta experiência de avaliador externo saliento o rigor, o empenho, o profissionalismo e o humanismo deste processo. Não se assiste a certificações administrativas. Há o trabalho e o mérito de cada um, com o objectivo duma certificação de competências. Tenho comentado frequentemente que um número razoável destes adultos revela excelentes competências, para quem o B3 é muito pouco, pois são merecedores duma certificação ao nível do 12º ano. Uma percentagem destes adultos entra neste processo, uns pela concretização dum sonho de infância, outros para poderem reunir condições de admissão a formações mais elevadas, outros para se afirmarem em termos socais e outros ainda numa perspectiva de formação e aprendizagem ao longo da vida.
A todos estes homens e mulheres insatisfeitos e lutadores presto a minha homenagem. Com muito esforço, conseguiram asas para voar. Estou convencido que este processo constitui um autêntico passaporte para a vida.
Com cidadãos dotados de melhores qualificações escolares e profissionais, com melhores cidadãos, Portugal poderá vencer os desafios colocados pela globalização e pela integração europeia.

Júlio Fontes Sá
Avaliador Externo

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