terça-feira, 1 de abril de 2008

O MEU PERCURSO

Uma adolescência turbulenta, uma maternidade precoce e a dedicação à família fez com que os estudos ficassem adiados.
Feliz e realizada em muitos aspectos da vida, sentia-me triste quando me perguntavam as minhas habilitações. A nível profissional, gosto do que faço, mas não me sinto realizada pois com o 6º ano não posso ir mais longe. Dúvidas, receio de uma escola esquecida, a família, a casa, o trabalho, o facto de não ter um horário compatível, o achar que já não tenho idade e mais um turbilhão de obstáculos fizeram com que a ideia de estudar ficasse para um dia, talvez…
É então, através de uma sessão de informação e divulgação feita por um profissional do centro Novas Oportunidades da Cior, realizada na instituição onde trabalho, que tive conhecimento do Centro Novas Oportunidades da Cooperativa de Ensino de Vila Nova de Famalicão, CRL. Duvidosa decidi inscrever-me.
Mais nada pairava na minha cabeça a não ser a imagem de uma escola com cadeiras de madeira, um quadro de lousa pregado na parede. Sinto-me desmotivada, pois já não sou mais aquela adolescente de cabeça fresca, mas sim uma adulta com responsabilidades com um sonho por realizar. Mas será que tinha o direito de desistir e deixar de me preocupar com o meu futuro sem saber o que envolvia este projecto?
Vou à primeira sessão a 18 de Janeiro de 2007 com um grupo de colegas da instituição onde trabalho e deparo-me com uma técnica que nos transmitiu confiança e retirou todas as nossas dúvidas.
Porque a escola da vida todos nós frequentamos no nosso dia-a-dia e essa não tem cadeira de madeira, nem quadros de lousa pregados na parede, esta seria a oportunidade de eu agarrar o meu futuro, acreditando que seria capaz. Não desisto e vou em frente.
No meu grupo éramos 13 pessoas onde durante duas horas semanais pairava a boa disposição e nos ajudávamos mutuamente e compartilhávamos ideias. Devo confessar que eram duas horas em que nos abstraímos dos nossos problemas. Éramos só nós e os técnicos, que por sua vez são pessoas atenciosas e simples, o que tornou este trabalho um fardo leve de se levar.
Devo confessar que, como qualquer ser humano, também fraquejei e quis desistir, mas pensei “se eu tiver uma divida eu vou fazer de tudo para a pagar nem que tenha que pedir e esta era a divida que eu tinha para comigo e tinha de a pagar”.
A 22 de Março de 2007 dá-se o fim das sessões e os nossos dossiers vão para análise. Esperámos para saber se estávamos validados para ir a júri ou se teríamos que ter formação complementar de algumas horas para adquirir as competências em falta. Eu tive sorte e fui directamente a júri no dia 7 de Maio de 2007, e como é o meu feitio sofrer por antecipação, estava nervosa e para meu espanto o ir a júri é dos momentos mais simples que este processo tem.
Quando ouço dizer “está certificada com 9º ano de escolaridade” por momentos esqueci o mundo e pensei:”consegui, vai em frente”. É este o conselho que eu dou a todos os meus colegas que estão indecisos, aos que já começaram e estão desmotivados, aos que estão em formação complementar, aos que foram certificados como eu, não desistas e segue em frente porque tu és capaz.
Quero deixar uma palavra de agradecimento à Escola Profissional Cior por implantar o Centro Novas oportunidades onde empregados e desempregados de um modo fácil, flexível, e gratuito não desistem de sonhar, ao excelente grupo de formadores, e em especial à Dra. Maria João Händel, Dra. Carla Susana Azevedo, Dra. Rosário Rodrigues, Eng.ª Marta Silva e ainda à Dra. Fernanda David pelo incentivo e por terem acreditado que tenho capacidade de chegar mais longe e seguir para próximo patamar: o de tirar o 12º ano.
O desistir sem tentar é o princípio do fracasso e neste mundo cruel, os fracos choram por terem desistido sem tentar.

Rute Morais Chaves Viana
Adulto Certificado com nível B3

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