Sendo assim, muito me espanta, que certos sectores da sociedade portuguesa, reajam ironicamente ao Programa Novas Oportunidades. Assiste-se já a alguma chacota pública e até a um certo anedotário nacional. Mas quem assim ridiculariza, conhecerá os princípios deste programa? Saberão que a maior parte destes adultos se formou na escola da vida, através dos currículos informais e ocultos? Saberão que muitos deles adquiriram as competências de linguagem e de comunicação à custa de muitas leituras? Que, mesmo que não dominem a linguagem académica, aplicam e lidam diariamente com a Matemática da vida, interpretando e aplicando métodos práticos e resolvendo problemas? Saberão que todos dominam a informática, na óptica do utilizador, utilizando o Word, PowerPoint, Excel e Internet? Quantos dos nossos alunos do 9º ano dominam estas ferramentas? Quantos são aqueles que têm uma experiência associativa e cívica tão rica como grande parte destes adultos? Muitos deles participam em movimentos associativos e cívicos, são autarcas, dirigentes associativos e encarregados de educação que acompanham de perto os seus filhos e que colaboram com a escola. Quantos são capazes de organizar um currículo, um portfólio, ou um dossiê exaustivo com as suas histórias de vida, salientando as diversas evidências pessoais, profissionais e formativas? Muitos deles têm uma experiência profissional rica e diversificada, revelando grande capacidade de aprendizagem e de adaptabilidade às diferentes profissões. Quantos deles, depois de oito horas de trabalho diário, ainda conseguem ter disponibilidade física e mental para frequentarem inúmeras acções de formação? E, sobretudo têm a humildade que, falta a tantos, para confessarem as suas limitações e têm um desejo férreo de se valorizarem cada vez mais. Não regressaram à escola, como se vai dizendo, mas têm que ultrapassar, por vezes, a crítica, o preconceito e a hostilidade de amigos e até de familiares, só porque aceitaram o desafio desta nova oportunidade e acreditam na aprendizagem ao longo da vida.
Enquanto avaliador externo, tenho tido a oportunidade de admirar, de me emocionar e de aprender com tantos destes homens e mulheres, que evidenciam tantas competências de vida, que apostam na leitura, que resolvem tantos problemas matemáticos, chegando mesmo a inventar equipamentos e máquinas, que sabem tanto de novas tecnologias, incluindo a informática, que frequentam tantas acções de formação, que detêm um riquíssimo currículo profissional, que participam de uma forma tão empenhada nos movimentos associativos e cívicos, quer como autarcas, dirigentes, voluntários, catequistas, escuteiros…
A todos estes homens e mulheres presto a minha homenagem e admiração.
Júlio Sá
Avaliador Externo
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